O *Quero Aprender a costurar*, abriu uma discussão sobre os usos dos tecidos com algumas blogueiras e amigas da comunidade do Como Faz no Flickr.
A Rachel Matos, consultora de moda com bastante experiência em lingerie, já deu suas dicas falando de tecidos para lingerie. A Carol Grilo, da FofysFactory, falou sobre tecidos para necessaires e carteiras, forros e afins.
Hoje a palavra é da Emy Kuramoto, do Tofu Studio - Design Independente. A Emy fala da história dela com a costura e com seus paninhos prediletos.
É normal pensarem que costuro desde sempre, que fui uma daquelas crianças mega-prendadas que costuraram desde que se entendiam por gente, imitando a mãe ou a avó. Mas não, este não foi o meu caso! Comecei a costurar depois de adulta! Antes eu alinhavava alguma coisa aqui, pregava algum botão ali, mas nada que eu levasse muito a sério ou que me afeiçoasse tanto a ponto de largar uma tarde de brincadeira com as amigas. Também não fiz nenhum curso. Tudo foi muito intuitivo e fiz muita engenharia reversa - já desmontei aquela roupa que eu amava e estava velhinha para entender os moldes e os acabamentos, coisa que minha mãe fazia em casa de vez em quando (achava isso fantástico!). Também já quebrei muito a cabeça para entender alguns processos construtivos. A confecção de uma peça depende muito das etapas, que devem ser seguidas criteriosamente para evitar erros e facilitar a montagem. O problema é que para descobrir a ordem destas etapas, é preciso muita paciência, é como montar um quebra-cabeças. Provavelmente uma professora ou um tutorial poderiam ter me ajudado, mas como eu tinha muito mais tempo que hoje (ô tempo bom!), aprendi na marra, observando, tentando e errando muito. Acho que eu estava, digamos, um tanto obcecada por aprender a costurar e passava horas e horas entretida com isso. A maior vantagem de ser auto-didata é que eu aprendi a pensar por mim mesma, aprendi a inventar processos, sem ficar dependente da tutela de algum curso ou apostila. A desvantagem é que você precisa de muito mais tempo e muita dedicação. Mas qualquer processo de aprendizado e válido se funciona para você! O importante mesmo é ter muita vontade e empenho!

Bom, como o assunto aqui é tecidos, vou contar um pouco da minha experiência na lida com os vulgos paninhos. Vou fazer aqui um grande elogio às fibras naturais, porque, na minha opinião, o homem ainda não conseguiu inventar uma fibra mais eficiente do que aquelas que a natureza nos dá. Se você fizer um vestido de seda sintética (acho que banalizaram o termo “seda”, mas tudo bem) e um de seda de verdade, verá que os 2 vestidos serão completamente diferentes! Para ilustrar, vou colocar nos seguintes termos: imagine um casamento modesto e a festa do Oscar… visualizou? Não, não é que as pessoas mais humildes tenham necessariamente mau gosto e eu não estou desdenhando ninguém, é que os tecidos sintéticos, geralmente, são muito mais baratos e se alastraram pelas lojas de noivas, mas em geral não têm um caimento e um toque tão bacana como os naturais, fora que eles não deixam a pele transpirar. Então se você viu um vestido lindo no Oscar, quer fazer um parecido, mas é beeem exigente, não economize no tecido, porque pode ser uma frustração só e ficar bem diferente da sua referência. Uma organza sintética, por exemplo, não tem nada a ver com uma organza de seda, acreditem. A sintética fica armadinha, não é obediente, enquanto a de seda-seda, cai gentilmente pelo seu corpo formando uma silhueta esguia, esvoaçante, linda! Até os homens percebem bem a diferença: pergunte para um yuppie o que ele acha do nó de uma gravata de seda e verá que a diferença para uma gravata sintética é gritante.

Aqui no Tofu Studio a maioria dos tecidos são planos (não usamos malhas) e 100% algodão. Usamos muito o tricoline de algodão por ser um material mais versátil e que dispõe de mais cores e estampas no mercado, mas sempre optamos por tecidos com tramas mais fechadas, ou seja, mais fios na composição. Isso confere uma aparência e uma qualidade melhor ao produto final. Uma dica preciosa é estar sempre atento às tonalidades e às padronagens dos tecidos, pois um mesmo tecido do mesmo fabricante pode estar mais claro ou escuro do que aquele que você comprou no mês passado, dependendo do lote. E aquele tecido de poás com falhas na estampa, com algumas bolinhas apagadas? É o fim… Aqui no Brasil infelizmente isso é recorrente (acredito que não há um padrão de qualidade muito sério rolando nas indústrias).

Também usamos muitos tecidos de algodão pesado (sarjas, brins e lonitas). Eles permitem confeccionar bolsas mais robustas e alças mais firmes, que vão garantir uma durabilidade maior e uma consistência melhor para o produto. É importante lavar os tecidos de algodão antes de usá-los para que eles encolham e não provoquem nenhuma deformação na peça pronta, também é recomendável checar se o tecido solta tinta em excesso, para que não cause manchas em lavagens futuras.

Outra vantagem dos tecidos de algodão é que eles são mais fáceis de trabalhar. Uma de suas características mais bacanas é que ele permite o vinco (com ferro ou com vincador) e tolera altas temperaturas. Os sintéticos ficam, de novo, devendo nesses quesitos, pois para vincá-los, só com ferro morno e com um tecido de algodão úmido entre o ferro e o tecido a ser vincado. Outra vantagem é que o algodão permite que a pele transpire. Eu não entendia muito bem porque isso ocorre, mas um dia destes vi um documentário da TV a cabo que elucidou bem o assunto. A fibra do algodão é oca e fofa! Ela tem ar no meio da fibra, como se fosse um tubinho. Isso permite que o tecido funcione como um isolante térmico, ou seja, no calor o tecido mantém o corpo fresco e no frio, quente. Genial! Tô pra ver alguma fibra sintética que substitua o algodão… Para quem é curioso e gosta de pesquisar sobre a história dos materiais, como eu, fica a dica do programa Maravilhas Modernas: cotton (é só jogar no youtube). É muito instrutivo!
Emy Kuramoto
Mais duas dicas sobre o Tofu:
1. Não deixe de conferir as fotos do studio. Coisa mais linda o espaço deles.
2. Se você gosta de moda e estilo, o blog da Emy é obrigatório. Muita coisa linda e inspirações.
Adorei ela falar sobre ter começado a costurar depois de adulta. Eu comecei velha, já!
Também quer aprender? Não fica com medo, não. Mete as caras e manda ver
Você vai se divertir muito, garanto!
Se você não acompanhou a série sobre tecidos, no primeiro post o assunto foi construção, que é o processo usado para fazer tecido. Na segunda semana falamos sobre composição: do que o tecido é feito. Confira!
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